terça-feira, 15 de abril de 2014

Maria Firmina dos Reis, poetisa, escritora e educadora (1825-1917)

Abolição, escravatura, literatura negra, poetas negros, poesia negra, Rogério de Moura, ação afirmativa, preconceito racial
Quem procurar por Maria Firmina na internet, encontrará poucos textos que dirá que ela tem alguma relação com heranças africanas além do que escreveu. Ou seja, achará que ela era branca. Também irá tropeçar em verbetes como no Wikipédia, dizendo coisas como: "mulata bastarda".

O termo mulato é atribuído a pessoas descendentes de negros e brancos. Mas também é ostensivamente utilizado para varrer para debaixo do tapete a negritude de pessoas geniais, como Machado de Assis, Lima Barreto, Jece Valadão, Mário de Andrade, entre outras personalidades. Como Maria Firmina dos Reis.

Enfrentando todas as barreiras do preconceito, publicou em 1859, o romance "Úrsula", considerado nosso primeiro romance abolicionista e um dos primeiros escritos por mulher brasileira. Também compôs o "Hino à Libertação dos Escravos".

Maria Firmina nasceu na Ilha de São Luís do Maranhão em outubro de 1825, filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis.

Aos cinco anos, mudou-se para a casa de uma tia materna, na vila de São José de Guimarães, no município de Viamão, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos, e lá viveu boa parte de sua vida. Aos vinte anos, concorreu à cadeira de Instrução Primária e, depois de aprovada, tornou-se professora de primeiras letras de 1847 a 1880.

Em 1859, publicou “Úrsula”, em 1887, o conto "A Escrava" e, em 1871, publicou a obra de poesias "Cantos à Beira-Mar". 

Ao se aposentar da carreira de professora, no início da década de 1880, fundou uma escola gratuita mista (para meninos e meninas), o que causou escândalo no povoado de Maçaricó. A escola foi fechada em pouco tempo. Também colaborou intensamente  para a imprensa local, publicando poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas.

Maria Firmina teve participação relevante como cidadã e intelectual ao longo de seus noventa e dois anos de uma vida, dedicada a ler, escrever e ensinar. Atuou como folclorista, na preservação de textos da literatura oral. Atuou também como compositora, sendo responsável, inclusive, pela composição de um hino para a abolição da escravatura. 

"Úrsula" permaneceu fora de circulação por mais de um século. Ao escrevê-lo, Maria Firmina assinou como “Uma Maranhense”, pseudônimo que se justifica nas limitações, nos preconceitos a que as mulheres eram submetids.

No prólogo do livro, diz saber que “pouco vale esse romance, porque escrito por uma mulher e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados”. Essas palavras revelam a condição social de quem não pôde estudar na Europa para ter uma educação mais apurada, assim classificando o seu livro de “mesquinho e humilde”, mas desafiando: “ainda assim o dou a lume”. (Luisa Caroline Campos Santos).

Trecho de "Úrsula":
"E o mísero sofria; porque era escravo e a escravidão não lhe embrutecera a alma, porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantara no coração, permaneciam intactos e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração estremeceu-se na presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista."

Obras:

“Úrsula”. Romance, 1859;
“Gupeva”. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude);
Poemas em: “Parnaso Maranhense”, 1861.
“A Escrava”. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3);
“Cantos à Beira-Mar. Poesias, 1871;
“Hino da Libertação dos Escravos”, 1888.

Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista.
Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).

Referências:

CAMPOS SANTOS, Luisa Caroline (bolsista/orientanda) e CORRÊA, Dinacy Mendonça (orientadora). Projeto Teares da Literatura Maranhense – a tessitura feminina. Pibic-Uema/Fapema, 2006/07 – relatório final.

CORRÊA, Dinacy Mendonça (orientadora) e VIEGAS, Priscila da Conceição (bolsista orientanda). Projeto Teares da Literatura Maranhense: romancistas contemporâneas. Pibic-Uema, 2006/07 – relatório final.

COSTA LEITE, Deuza Maria. A Literatura Maranhense na Expressão Feminina – pequena antologia crítica. Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura em Letras (sob a orientação da Prof. Dinacy Mendonça Corrêa). São Luís-Ma: Uema, 1999.

DUARTE, Eduardo de Assis. In: Reis, Maria Firmina dos. Úrsula, 4ª. ed. – PUC/Florianópolis-MG:Editora Mulheres (atualização do texto e posfácio).

LOBO, Luiza.  A Literatura de Autoria Feminina na América Latina. Rio de Janeiro:UFRJ, 1996.

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. 4ª. ed. PUC/Florianópolis-MG: Editora Mulheres.

SUPLEMENTO CULTURAL E LITERÁRIO JP-GUESA ERRANTE. Ano III, ed. 100 – 28.11.2008.



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Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

1 comentários:

  1. Olá, bom dia. Se a página puder fazer a correção da imagem fará um grande serviço em favor da informação correta. A imagem atribuída acima à Maria Firmina representa um equívoco, pois retrata uma escritora gaúcha e não MF. Solicitamos que a administração da página possa fazer essa correção pelo zelo á informação fidedigna.

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